Para a mestra e amiga Iara Cordeiro...

Para a amiga Iara Cordeiro

(PROFESSORA)

Para quem chega cantando

Com vontade de chorar...

Para quem sonha tentando

Pedra bruta burilar...

Para quem planta a semente

Do saber que em tudo cabe

... Desde a criança inocente

Ao homem que tanto sabe...

Para quem vê no escuro

No silêncio dos desertos

Para quem dá um futuro

Ao fruto ainda incerto...

Mestra Iara! Com carinho

Envio um bom pensamento

Que seja doce teu vinho

Em todo e qualquer momento

Pois só quem semeia amores

Mil vezes pelos caminhos...

Sabe a beleza das flores

E a tristeza dos espinhos!

Gastão Ferreira/2012

Vivendo a margem do Ribeira

ME ABRAÇA...

Sou menino caiçara

Minha vida é um desafio

Minha sina se amarra

Na bela margem do rio...

É pouca coisa que tenho

Canoa rede motor...

Dependo do meu engenho

Sou humilde pescador.

Lá na volta do Ribeira

Tenho uma casa de chão

Minha cama uma esteira

Na parede meu violão...

Tenho rede bem guardada

Quando quero vou pescar

Seja noite ou madrugada

Estou pronto prá remar...

Deste rio que é minha vida

Eu conheço cada braça...

Em toda a curva escondida

Rio Ribeira me abraça...

Gastão Ferreira/2012

... RIO RIBEIRA...

Que rio é este que encanta a gente

Correndo lento prá encontrar o mar

Que rio é este que trás a semente

De tanta história prá nos cativar?

Que rio é este que de longe vem

Vencendo as serras prá nos visitar

Que rio é este? Que nome que tem

Que tão contente nos vem abraçar?

É o rio Ribeira com suas águas claras

Que vem cantando desde o Paraná...

É onde vivem as imortais Yaras

Em suas margens mora o Sabiá!

É o rio Ribeira procurando a Barra

Que beija Iguape ao passar por nós

Que se entrega inteiro no Icapara

E ao Mar sereno vai juntar sua voz!

Gastão Ferreira/2012

Usando o Tupi-guarani...

ARARIPE...

Sou tapuia dos meus versos

Curumim dos meus sonhares

Na coema dos desertos

Urupema dos pesares...

Cateto quati capivara

Tapir jaguar e preá...

Abá cunhã e coivara

Poty cururu guirá...

Na caá oby distante

Na nhandaba da manhã

Ali vivendo confiante

Catuçaba de Tupã...

Aracy namora a lua

Anhangá ama a Jacy

E a vida continua...

Araripe onde eu vivi!

Gastão Ferreira/2012

Tapuia – Escravo Araripe – Pelo mundo

Curumim – Menino Coivara – Roçado

Coema – Manhã Guirá – Pássaro

Urupema – Peneira Cururu – Sapo

Caá Oby – Mata verde Poty – Camarão

Nhandaba – Corrida Jacy – Lua

Catuçaba – Bondade Aracy – Sol

Abá – Homem Cunhã – Mulher

Palavras em Tupi-guarani – Nheengatu (Boa fala)

UM TAPA NA CARA...

A cruz de pedra na praça

Ela nos conta uma história

Fala da nossa desgraça

Para quem não tem memória!

Para quem só vê passado

E caminha no escuro

Esta cruz foi um achado

Para matar o futuro...

Transformaram o paraíso

Num imenso lodaçal...

Tiraram nosso sorriso

O açúcar virou sal...

Quem sabe um dia voltamos

Todos de novo a sorrir...

Pois a cidade que amamos

Vai a tudo resistir...

A cruz de pedra na praça

Bem velha custou tão cara

Foi imposta por pirraça...

Um tapa na nossa cara!

Gastão Ferreira/2012

CANASTRÃO...

De muitos eus eu sou feito

De muito querer também...

De muito sonho perfeito

Que só me trouxe desdém!

A máscara na minha face

Em mim assenta tão bem

É parte do meu disfarce

Aos olhos que não me tem

Minha sombra me persegue

Nunca se afastou de mim

Companheira que me segue

Dentro da noite sem fim...

Sou ator de pouco peso

Divertindo a multidão...

Tiro sarro de mim mesmo

Sou um grande canastrão!

Gastão Ferreira/2012

HORA DE ACORDAR...

Quando o Amor bate na porta

E não se deixa ele entrar...

Vem a Dor, rompe a comporta

Forçando o mundo a ensinar

Tem gente que só se importa

Com posses, fama, renome...

Quando a Dor a vida entorta

São estas coisas que somem!

Para aprender a lição

Nem precisa ser esperto

Basta ter bom coração

Ser humilde, ser correto!

Chegamos de mãos vazias

E assim vamos embora...

Pois no caixão quem diria

O ouro fica de fora...

Tem gente que só aprende

Depois de muito apanhar...

Tem gente que não entende

Que a Dor nos vem acordar!

Gastão Ferreira/2012

NA REDE...

Fui pirata, fui guerreiro

Fui escravo, fui senhor...

Fui também um feiticeiro

Nos descaminhos do amor

Cada vida um combate

Muitas vezes perdedor

Pois aquele que mais bate

Desconhece o sofrer dor...

Quando amor bateu na porta

Eu me neguei a abrir...

A dor rompeu a comporta

E me obrigou a seguir...

Prisioneiro dos caminhos

Da luz divina afastado...

Fui removendo os espinhos

Das loucuras do passado...

Hoje sou peixe malhado

Na rede do Salvador...

Tenho Jesus a meu lado

Como exemplo e mentor!

Gastão Ferreira/2012

SUFOCA...

Da montanha verdejante

Céu azul a me espiar...

Sou apenas caminhante

Da paisagem a se encantar!

Oh Iguape! Como é linda

A beleza que te envolve

Aos meus olhos tudo finda

Tarde mansa me comove!

Passarinho que me espia

Do terraço aqui de casa

Com seu canto de alegria

A tristeza bate asa...

No azul do céu da tarde

Vento brando vem e toca

O meu peito queima arde

Poesia em mim sufoca...

Gastão Ferreira/2012